31/07/2009

Brasil: a lixeira para o 1º Mundo

"Não é admissível que os países pobres e em desenvolvimento seja a lata de lixo do planeta”

(Carlos Minc, ministro do Meio Ambiente)


Não é admissível mesmo, ministro!!! No último mês, o País recebeu cerca de 1,5 mil toneladas de lixo. Só no Porto de Santos, a Alfândega identificou 970 toneladas de lixo orgânico.

Em tempos de discussões sobre aquecimento global, escassez de recursos naturais, redução de materiais descartados, reciclagem e educação ambiental, ainda há pessoas que não entendem o tamanho da importância em dos 3 R's: REDUZIR, REUTILIZAR E RECICLAR.

Encaminhar resíduos de uma nação para a outra é proibido, é crime. Convenção de Basiléia!!! Lembram dela?! Será que teremos de ensinar aos britânicos que é possível reciclar certos produtos como garrafas plásticas, sacolas e outros tantos materiais encontrados na carga de "polímero" (descrição da carga na declaração de importação).

Quem é mesmo de primeiro mundo?!

HISTÓRICO - No dia 27 de julho, durante mais de uma hora, o ministro Carlos Minc vasculhou os prensados de lixo e enfrentou o mau cheiro. No tumultuado, Minc encontrou garrafas e sacos plásticos, lixo tecnológico, além de materiais em decomposição “Isso é uma coisa imoral e ilegal, e não é de hoje”, criticou o ministro Carlos Minc, declarando que não é a primeira vez que países exportam lixo ao Brasil.

A previsão era de que o processo de repatriação dos 48 cofres metálicos, armazenados no Rio Grande do Sul, tivesse início na última segunda-feira. Em seguida, as autoridades encaminharam a carga estocada no Porto de Santos (41 cofres). Mas, o atraso do cargueiro adiou a devolução dos contêineres e alterou a programação anunciada pelo Ministro.

Conforme o IBAMA, as cargas encontradas nos Portos de Santos e Rio Grande do Sul podem retornar no mesmo navio no próximo domingo, dia 2 de agosto. Se o navio, mais uma vez, não se atrasar.

Fotos: Divulgação MMA/Jefferson Rudy

05/07/2009

Entrevista consciente: Um pouco mais de educação


Como respeitar o meu próximo se nem me reconheço como cidadão? Ter cidadania é saber que se têm direitos e deveres iguais. No entanto, vivemos em um País em que a política dos privilégios impera e os “jeitinhos” tentam burlar as leis. Tivemos a contribuição de um processo histórico que sempre cerceava os direitos de alguém. E, se é difícil respeitar o próximo, como querer que as pessoas preservem o meio ambiente? No entanto, o sociólogo Maurício Ferreira da Silva* acredita que com educação muita coisa pode se resolver.

Revista Jundu: Qual o papel da educação para a formação de pessoas mais conscientes?
Maurício Ferreira da Silva: O fator fundamental para a formação da cidadania é a escola. Em muitos casos, a escola prepara o aluno para ser o que a sociedade quer que ele seja, mas essa instituição é mais do que isso: precisa prepará-lo para o convívio social e não apenas para formar mão-de-obra. O sujeito aprende a ser cidadão no convívio. Ele necessita entender a importância da vida em sociedade para assim respeitar o outro e também o meio ambiente em que está inserido. A escola diz para o aluno ser alguém e ter uma profissão, mas o certo seria também ser uma extensão da família e ajudar a formar o cidadão. Esse ambiente tem um papel de dinamizar a democracia e incentivar os alunos a expor as suas idéias. É preciso criar uma consciência social para aprender a ver as causas e os efeitos dos nossos atos. As pessoas não conseguem fazer a relação sobre sua ação e a conseqüência para o outro.

Revista Jundu: É só a escola que deve se empenhar para a formação da cidadania?
Silva: Nessa formação da cidadania a escola não está sozinha, outras instituições, como meios de comunicação, família e instituições religiosas ajudam nesse processo.

Revista Jundu: O que o processo de formação do País tem a ver com isso?
Silva: A nossa colonização ajudou a formar o modelo de escola que temos hoje. Esse período contribuiu também para a má formação da cidadania, com influências do patriarcalismo e da escravidão. Temos a cultura do obedecer. Sempre se teve alguém que mandava: os donos da terra na época do império, os senhores de engenho, os coronéis, entre outros. As camadas mais pobres crescem submissas enquanto existem privilegiados, que detêm o dinheiro e altos cargos. Desta forma, os mais pobres não se vêem como iguais e como cidadãos.

Revista Jundu: Como querer falar em respeitar o próximo e o meio ambiente em um lugar em que muitos não se reconhecem como iguais?
Silva: Se a pessoa não tiver condições básicas para viver, não adianta. Se não tiver saneamento básico, saúde, segurança e educação, entre outras necessidades ela não irá estabelecer a ligação entre a falta de comida em sua mesa e os problemas ambientais. Não há como explicar que tem que tomar banho em menos tempo para uma pessoa que não tem comida na mesa. Os mais pobres de nossa sociedade têm deveres, mas não direitos, e para conhecer os direitos é preciso ir para a escola. Temos que atacar o problema desde a sua raiz, dar mais condições para essas pessoas. E, principalmente, uma educação de qualidade. Existe tempo para mudanças.

Revista Jundu: Nossa sociedade capitalista contribui para não pensarmos no próximo e consequentemente não pensarmos no meio ambiente?
Silva: Sim. Vivemos em cultura capitalista, em que se exalta o ter e não o ser. Pensa mais em si do que na sociedade. Existe o consumo exacerbado para satisfazer necessidades criadas pela mídia. Materiais que te fazem superior ao outro.

Revista Jundu: Por que tem gente que joga o lixo na rua e não em sua casa?
Silva: Na minha casa, mando eu. Por causa do conceito errado de cidadania, o povo não entende o espaço externo como seu. Quem é o público? Ninguém se coloca como cidadão. Desta forma, preservo a minha casa e não o espaço público que é de todos, inclusive meu.

Revista Jundu: Você acredita que podemos mudar esse quadro?
Silva: Hoje, há mais jovens conscientes, desta forma, teremos adultos mais comprometidos com as causas coletivas, como a preservação do meio ambiente para a nossa e para as futuras gerações. A consciência ambiental está mudando. A tendência é mudar mesmo. Não sou pessimista: a curto prazo, podemos resolver as questões emergenciais.

*Mauricio Ferreira da Silva possui graduação e mestrado em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo; doutorado, também na área de Ciências Sociais, pelo PPGCS da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). É pesquisador e professor titular do Centro Universitário Monte Serrat (UNIMONTE). Tem experiência como docente e pesquisador na área das Ciências Sociais, com ênfase em Instituições Políticas, Estudos Eleitorais, Cidadania e Educação, Sociologia da Comunicação e Estudos sobre Mídia e Política. Faz parte do grupo de capacitadores do "Gruhbas: Projetos Educacionais e Culturais". Autor do livro Quem me elegeu foi o rádio - Como o rádio elege seus representantes. (1. ed. São Paulo: Olho D'Água, 2000. v. 1. 91 p.)

As pessoas estão mais conscientes quando o assunto é preservar o planeta?